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    “Não se cale”: Instituto Veiga Borges encoraja vítimas de abuso a denunciar

    O Brasil registrou 74.930 estupros em 2022, o maior número da história. Desse total, 61,4% das vítimas tinham no máximo 13 anos de idade. Os dados são do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2023.

    O número é alarmante, mas sabemos que os números reais são muito maiores do que os registrados.

    Kandice Veiga, uma das idealizadoras do Instituto de Proteção à Infância Veiga Borges, que cuida de mulheres e crianças vítimas de abuso, diz que a violência contra a mulher afeta toda uma vida, toda uma estrutura familiar.

    “Acaba que você não sofre sozinha, não supera as consequências sozinha. Você tem que ter uma ajuda e um apoio familiar”, disse Kandice. “É uma consequência gerada para o resto da vida. Você perde a autoestima, a confiança no próximo, você perde o medo de entrar em outro relacionamento, o medo de restabelecer a sua vida e dar continuidade”.

    Ela, que também foi vítima de violência doméstica, sabe bem o que é passar por isso. “Eu, como vítima de violência doméstica, e tendo minha filha como vítima de violência, como uma criança, te falo que 70% de você é levado com a violência”, disse.

    Efeitos devastadores na saúde

    Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, os efeitos da violência na saúde variam com a idade e o sexo das vítimas, mas sabe-se que são mais severos sobre as mulheres. Ela exerce consequências biológicas, como danos aos sistemas neuroendócrino e imunológico. Do ponto de vista psicológico, produz efeitos como depressão, ansiedade, estresse pós-traumático, risco cardiovascular, suicídio, e morte prematura.

    Dessa forma, Kandice afirma que o apoio psicológico é primordial, “porque você não dá conta de sair do ciclo sozinha”.

    “Por ser uma coisa que acomete muito seu estado emocional, você acaba entrando num ciclo totalmente perdido, que você precisa do apoio de um profissional. E se você não tiver esse apoio, você não consegue sair, porque você acaba entrando numa nuvem tão negra, que se você não ver solução, você acha que é culpado, é errado de tudo. Mesmo querendo se defender de algo”.

    Esperança e apoio para vítimas

    Com sede em Goiânia, o Instituto de Proteção à Infância Veiga Borges, idealizado também por Claudia Almeida, vem ajudando mais de 300 famílias no estado de Goiás. Até o momento ele se mantém com recurso próprio, oferecendo suporte psicológico, jurídico e social para vítimas e famílias de vítimas de abuso.

    Assim, Kandice diz que o instituto é muito importante para as mulheres. “Eu tiro base pelas mulheres chegando aqui totalmente sofridas, com medo, com medo até de denunciar. Aqui ela encontra o acolhimento necessário, encontra uma equipe de mulheres para apoiá-la e encorajá-la a denunciar”.

    Kandice deixa uma mensagem para todas as mulheres e crianças que são vítimas de abuso. “Não pensem. Não tem nem que pensar, tem que fazer, porque o silêncio só protege o agressor”.

    “A partir do momento que você denuncia uma agressão tão doída, igual essa, você abre brechas para outras denúncias virem”, afirma. Segundo ela, no caso de estupro de vulnerável, o agressor geralmente vem de uma série de acontecimentos, em que a vítima não teve coragem de se abrir. “Não se cale, porque o silêncio só protege o agressor”.

    Você não está sozinha. Se você é de Goiás, foi vítima ou é da família de alguém que foi, entre em contato com o Instituto através do telefone (62) 98243-7240. Outras mulheres estão aqui para ajudar.

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