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    PARLAMENTARES BIG BROTHER´S E A “VTERIZAÇÃO” DO EXPEDIENTE

    Na Era Digital, onde os usuários consomem diariamente uma ampla variedade de conteúdos nas mais diversas redes sociais, como o Whatsapp, Instagram, TikTok e Twitter, é perceptível um padrão de algoritmo que objetiva prender a atenção do consumidor. Na prática, esse hábito reconfigurou a realidade política do nosso país. Hoje, nas Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas e até no Congresso Nacional, observamos um grande número de representantes eleitos que mais se interessam em produzir clipes, recortes ou VTs (vídeo tapes) do que em debater os reais enfrentamentos da população e cumprir sua função como eleitos.

    Fazendo uma alusão direta à situação, trago o reality show mais comentado do país, o Big Brother Brasil, onde 26 participantes competem pela premiação e fama ocasionada pelo programa. Dentro dessa realidade, mais da metade dos players saem com uma carreira definida pelo acúmulo de seguidores, curtidas e views. Seria a política brasileira um grande Big Brother? Onde nos parlamentares prevalece o medo de serem taxados como “plantas”, e o prêmio principal é o engajamento que nessa realidade é convertido em votos.

    Ressalto que os efeitos dessa prática de conversão são perceptíveis nas eleições de 2018, 2020 e 2022, quando prevaleceu uma onda de eleitos devido à associação ao digital, onde já tinham um trabalho como influenciadores, formadores de opinião e produtores de conteúdo. Essa prática foi percebida e, consequentemente, tornou-se meta para os eleitos subsequentes.

    As redes sociais podem e devem ser utilizadas como ferramentas políticas, considerando os diversos benefícios, como o estreitamento do vínculo entre representante e eleitor e a transparência dos serviços públicos prestados pelo parlamentar. No entanto, diferente do Big Brother Brasil, um mandato representa uma grande parcela de eleitores, e o tempo de tribuna trata da dignidade e qualidade de vida da população. Portanto, o que deve alertar os contribuintes é o uso do espaço institucional e do dinheiro público para levantar pautas que pouco acrescentam à sociedade, geralmente utilizadas com a intenção de se tornarem virais por meio de temas polarizados e falas absurdas, visando apenas o foco midiático. Enquanto isso, as demandas e projetos que realmente interessam à população são deixados em segundo plano.

    Em suma, deve ser priorizada uma reflexão sobre o aparelhamento das instituições públicas para fins de produção de conteúdo digital; o expediente dos representantes eleitos pela população não deveria servir como palco para ações superficiais e desvinculadas das necessidades reais da sociedade. A responsabilidade dos nossos parlamentares é primordial para garantir que o uso da tribuna esteja alinhado com os interesses da população e com a promoção de uma democracia participativa.

    No Big Brother Brasil, na grande maioria das vezes, os participantes percebidos como “VTzeiros” são retirados da casa pelo público, e na política cabe ao cidadão e consumidor de conteúdo político o papel fundamental de acompanhar e questionar se os debates acompanhados durante o expediente legislativo estão dentro da competência do representante e são realmente relevantes para a instância que o elegeu.

     

    Autor: João Victor Carvalho

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