Construção da Avenida Marginal Capim Puba em Goiânia: Oportunidade perdida para repensar a relação entre urbanização e meio ambiente
A cidade planejada do século XX pode aprender com os exemplos de urbanização sustentável do presente
Recentemente, a Prefeitura de Goiânia lançou o edital para construção da Avenida Marginal Capim Puba, com o objetivo de desafogar o trânsito na região e facilitar o acesso à região de Campinas. A ocupação da várzea dos cursos d’água para construção de vias de trânsito rápido aparentemente traz benefícios para a cidade, pois aproveita uma área pouco aproveitável para construções civis, diminuindo custos como os de desapropriação. Porém, requer grandes intervenções de infraestrutura na tentativa de controlar as condições naturais do local, principalmente os relacionados com a drenagem urbana.
A maior frequência de enchentes, os desmoronamentos de terras, as chuvas cada vez mais intensas no verão, a impermeabilização excessiva do solo e o desabastecimento de água no período de estiagem são exemplos de situações que estão tornando mais comum a adoção de estratégias que visam o manejo sustentável das águas urbanas. Em resposta a essas problemáticas, surgem dispositivos que tentam estabelecer uma relação mais harmônica no modo como tratamos as águas urbanas, como os jardins de chuva, poços de infiltração, jardins filtrantes e adoção de pavimentos permeáveis.
Esses dispositivos são tentativas de mitigar os efeitos de uma drenagem urbana que se encontra em estado caótico. Sozinhas, elas não são capazes de enfrentar os eventos climáticos extremos que a cada ano intensificam os danos à vida humana. Para uma resposta mais efetiva, suficiente para contribuir com a melhora do clima, é necessário que cidade e natureza não sejam antagônicas. Muitas vezes a discussão envolvendo o meio ambiente é relacionada a correntes ideológicas, mas vivemos um momento em que essa associação deve evoluir para um aprofundamento do caráter científico relacionado ao tema.
A cidade de São Paulo teve seu processo de urbanização marcado pelas ocupações das várzeas dos cursos d’águas urbanizadas, com intervenções que priorizavam os meios de locomoção. No fim de 2022, o governo de São Paulo encerrou a última etapa do programa Novo Rio Pinheiros. A proposta era revitalizar o rio, através da redução de esgoto lançados nos afluentes do rio. Dessa forma, melhorar a qualidade das águas e integrá-lo completamente à cidade, trazendo as pessoas para suas margens, e esse objetivo vem sendo alcançado.
São verdadeiras obras de engenharia, mas que agora priorizam trazer novamente vida ao rio. Mundo afora, esse é apenas um exemplo de cidade que sofre as consequências de uma ocupação que desconsidera as características naturais do seu local de implantação, e agora estão obrigadas a tentar reparar esse erro. As cidades que hoje passam por um processo de urbanização acelerado devem aproveitar a vantagem de saber as consequências das escolhas utilizadas para construir a sua expansão. Afinal, por que repetir estratégias que notadamente não garantem uma cidade saudável?
O Córrego Capim Puba já possui condições ambientais afetadas pela ocupação de suas margens, poluição por lixo e esgoto, canalização de seu curso. Será ainda mais modificado com a construção da nova marginal. Goiânia, uma cidade planejada na década de 30 como resposta às demandas por modernidade daquela época, tem perdido a oportunidade de se manter na vanguarda do urbanismo. Iguala-se à maioria das cidades no que diz respeito à capacidade de dar respostas contemporâneas às problemáticas da ocupação urbana e o meio ambiente.
A construção da Avenida Marginal Capim Puba pode ser uma oportunidade perdida para a cidade de Goiânia repensar sua relação com o meio ambiente e buscar soluções mais sustentáveis de desenvolvimento urbano. Ao invés de seguir o caminho de outras cidades que já estão enfrentando os desafios de conciliar urbanização e preservação ambiental, Goiânia corre o risco de se tornar mais um exemplo de cidade que negligencia a importância de um planejamento urbano integrado e consciente das demandas ecológicas do presente e do futuro.