Cortes de Impostos em Carros Novos: Um Primeiro Passo, Mas Ainda Longe da Linha de Chegada
Medidas Governamentais Reduzem Tributos, mas Acessibilidade a Veículos Novos Ainda Enfrenta Obstáculos Como Juros Altos e Renda Média Baixa
O anúncio do governo federal de redução de impostos com o intuito de diminuir o valor final de carros novos no Brasil é uma medida positiva e necessária em uma economia que já sofre com a alta carga tributária. No entanto, é importante salientar que essa iniciativa pode não ser suficiente para tornar os carros novos acessíveis para grande parte da população brasileira.
Para se ter uma ideia, há quatro anos era necessário acumular o equivalente a 28 salários mínimos para adquirir o carro mais barato do Brasil, um Chery QQ (R$ 26.690). Hoje, a realidade é ainda mais desoladora: são necessários 50 salários mínimos para adquirir o veículo de entrada do mercado, o Renault Kwid Zen (R$ 68.900). O aumento expressivo do valor dos carros populares é, em grande parte, resultado do complexo e pesado sistema tributário brasileiro, que inflaciona os preços de produtos e serviços no país.
Os impostos que incidem sobre a venda de automóveis no Brasil, como ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e PIS/Cofins (Programa de Integração Social e Contribuição para Financiamento da Seguridade Social), são, de fato, as maiores barreiras à acessibilidade a carros novos para o cidadão comum. O peso desses tributos varia de 30% a 50% do valor final dos carros nacionais e pode alcançar até 80% em veículos importados. Ou seja, um carro que custa US$ 20 mil nos Estados Unidos pode custar até US$ 35 mil no Brasil.
Mesmo com a proposta de redução dos impostos anunciada pelo governo, não podemos ignorar que há outros fatores que continuam impedindo o acesso aos veículos novos. O Brasil possui um dos maiores juros de financiamento do mundo, o que dificulta ainda mais a aquisição de bens de alto valor como automóveis. Além disso, a renda média do brasileiro, que segundo o IBGE fica em torno de R$ 2.308,00, torna praticamente inviável o financiamento de um carro novo sem comprometer seriamente a estabilidade financeira familiar.
Portanto, apesar de ser um passo na direção certa, a redução de impostos anunciada pelo governo é apenas uma das várias medidas que precisam ser implementadas para realmente facilitar o acesso a carros novos no Brasil. É necessário que ocorra uma reformulação mais profunda do sistema tributário brasileiro, além de políticas que visem a redução dos juros de financiamento e o aumento da renda média da população. Enquanto isso não acontecer, o sonho do carro novo continuará distante para a maioria dos brasileiros.