Postos mantêm margens altas e travam queda no preço do etanol em Goiânia
Mesmo com recuo de R$ 0,23 no valor do etanol hidratado vendido pelas usinas, consumidor paga até R$ 4,84 nos postos da capital. Apuração do Transmissão Política mostra margem ampliada em plena safra da cana.

Postos mantêm margens altas e travam queda no preço do etanol em Goiânia
Mesmo com o recuo de R$ 0,23 no valor do etanol hidratado vendido pelas usinas, o consumidor paga até R$ 4,84 nos postos da capital. Apuração do Transmissão Política mostra margem ampliada em plena safra da cana.
Preço cai nas usinas, mas não chega ao consumidor
Uma apuração do Transmissão Política, realizada em Goiânia, revela um descompasso entre a queda no preço do etanol hidratado nas usinas e os valores cobrados nos postos. Nas últimas quatro semanas, o litro do etanol vendido para distribuidoras caiu de R$ 3,30 para R$ 3,07. No entanto, o repasse ao consumidor final praticamente não ocorreu.
Mesmo com essa redução acumulada de R$ 0,23, os postos mantêm os preços em torno de R$ 4,57, segundo o levantamento mais recente da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). A diferença entre o valor de aquisição e o preço na bomba indica margens elevadas mantidas pelos revendedores, mesmo em plena safra de cana.
Custo final inclui tributos e margens fixas
Hoje, o litro do etanol chega aos postos a cerca de R$ 3,35. Esse valor já inclui o frete (R$ 0,07), a margem da distribuidora (de R$ 0,05 a R$ 0,07) e a diferença de ICMS (R$ 0,12). Vale lembrar que o imposto é recolhido na fonte. Ou seja, o combustível chega aos postos totalmente tributado, sem incidência de novos tributos na revenda.
Mesmo assim, o preço ao consumidor ultrapassa facilmente os R$ 4,50. Especialistas ouvidos pela reportagem apontam que há uma retenção artificial de margem pelos postos, justamente no período de maior oferta — entre março e abril, quando se inicia a safra no Centro-Oeste.
Etanol perde competitividade nas bombas
Além da frustração dos consumidores com os preços, há um agravante: o etanol perdeu competitividade em relação à gasolina. Nesta semana, o litro da gasolina em Goiânia foi vendido, em média, a R$ 6,32. Já o etanol, a R$ 4,57 — o que representa uma paridade de 72%.
Na prática, quanto mais o preço do etanol se aproxima do da gasolina, menos vantajoso é abastecer com o biocombustível. Isso ocorre porque o rendimento do etanol é cerca de 30% inferior. O ideal, segundo especialistas, é que o etanol custe até 70% do valor da gasolina para compensar.
Atualmente, com a paridade em 72%, o etanol já ultrapassa o limite de viabilidade econômica. Como resultado, a tendência é de queda na demanda. Isso pode, inclusive, aumentar a pressão sobre os preços da gasolina — um cenário ruim para o consumidor, mas vantajoso para os postos.
Falta de fiscalização e transparência
Os dados levantados pelo Transmissão Política reforçam a necessidade de mais fiscalização e transparência na cadeia de combustíveis. Embora o mercado de etanol seja livre, a diferença entre os preços na origem e na bomba indica retenção de lucros que ignora a realidade da produção.
O consumidor goianiense, que já sofre com aumentos em alimentos e serviços básicos, enfrenta mais uma pressão no orçamento: o custo do combustível. Em plena safra da cana, com etanol mais barato na origem, o preço nas bombas deveria ser menor.