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    EUA e Ucrânia firmam acordo sobre minerais estratégicos em meio a tensões por garantias de segurança

    Parceria econômica foca reconstrução da Ucrânia e acesso americano a terras raras, lítio e titânio; segurança ficou fora do texto final

    Os governos dos Estados Unidos e da Ucrânia assinaram nesta terça-feira (29) um acordo de cooperação estratégica que cria um fundo binacional voltado à exploração e investimento em minerais críticos no território ucraniano. A medida foi oficializada em Washington, com a assinatura do secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, e da ministra da Economia da Ucrânia, Yulia Svyrydenko.

    O acordo ocorre em um momento delicado das relações bilaterais. O presidente Volodymyr Zelensky buscava garantias de segurança explícitas por parte dos EUA, o que não entrou no texto final. O presidente Donald Trump, reeleito em 2025, negou formalmente essas garantias, argumentando que a presença de empresas americanas na Ucrânia representaria um interesse implícito de proteção estratégica.

    Recursos estratégicos e interesses geopolíticos

    A Ucrânia detém cerca de 5% das reservas mundiais de minerais estratégicos, incluindo elementos essenciais para tecnologias de ponta, como ítrio, cério, praseodímio, escândio, titânio, grafite e lítio. Em meio ao conflito, cerca de 40% desses recursos metálicos permanecem em áreas ocupadas pela Rússia, como Donetsk, Luhansk e Zaporizhzhia.

    O novo acordo busca financiar projetos de reconstrução no pós-guerra, incluindo infraestrutura, mineração e cadeias logísticas, a partir dos lucros de novos empreendimentos. Os EUA terão acesso preferencial aos recursos, mas a Ucrânia manterá a soberania sobre suas reservas, inclusive com poder decisório sobre extração e destino dos projetos.

    Detalhes do acordo bilateral

    O fundo binacional será abastecido com 50% dos lucros e royalties de novos projetos de mineração, gás e petróleo. Já os ativos atuais, licenças existentes e concessões em vigor estão fora do escopo do acordo. A gestão será compartilhada igualmente entre os dois países, e os lucros não serão tributados nem nos EUA, nem na Ucrânia, a fim de permitir reinvestimento integral.

    A Ucrânia contribuirá com metade das receitas futuras dos recursos estatais. Em contrapartida, os Estados Unidos se comprometeram a fornecer nova ajuda militar e financeira, excluindo os valores anteriormente investidos. O acesso preferencial aos minerais será garantido, mas não irrestrito.

    Disputa por garantias e tensões diplomáticas

    Antes da assinatura, Trump chegou a condicionar a continuidade da ajuda militar americana a um acesso direto a até US$ 500 bilhões em receitas minerais. Zelensky classificou a exigência como “tentativa de vender o Estado” e rejeitou a condição.

    Em fevereiro de 2025, uma reunião entre os dois líderes na Casa Branca terminou sem acordo, marcada por tensões e acusações. Trump acusou Zelensky de “flertar com a Terceira Guerra Mundial”, enquanto o ucraniano insistia em compromissos de defesa formal.

    Embora o acordo represente uma aproximação econômica relevante, a ausência de garantias de segurança explícitas preocupa setores em Kiev, que temem que os interesses dos EUA se sobreponham à soberania ucraniana.

    Interesse americano e disputa com a China

    O acordo representa também um movimento estratégico dos Estados Unidos para reduzir sua dependência dos minerais raros da China, que atualmente detém cerca de 80% do mercado global desses insumos. Ao garantir acesso a fontes alternativas, como os depósitos ucranianos, Washington reforça suas cadeias de suprimentos em setores de tecnologia, defesa e energia limpa.

    Apesar disso, críticos alertam para um possível desequilíbrio no acordo, que pode privilegiar empresas americanas em detrimento de benefícios reais à população ucraniana. O equilíbrio entre reconstrução econômica e soberania nacional seguirá no centro do debate nas próximas etapas do pós-conflito.

     

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