Postos “seguram” preço do etanol em Goiânia e inflacionam mercado
Usinas vendem a R$ 3,25, mas consumidor continua pagando R$ 4,80 nas bombas
O consumidor goianiense virou refém de uma prática que já não dá mais para chamar de simples mercado: os postos de combustíveis estão segurando artificialmente o preço do etanol, mesmo com as usinas entregando o produto a pouco mais de R$ 3,25 por litro.
Além disso, enquanto isso acontece, quem abastece em Goiânia e no interior continua pagando R$ 4,80 na bomba — uma diferença de mais de R$ 1,50 por litro. Nem a queda registrada pelo Cepea/Esalq nas últimas semanas, que mostra retração nos preços nas usinas de Goiás e São Paulo, foi suficiente para sensibilizar as distribuidoras e redes de postos.
Margens gordas e pouca concorrência
O argumento de custos com ICMS e frete não se sustenta diante da disparidade atual. Dessa forma, o que se vê é uma margem inflada, que mantém o preço artificialmente alto e trava qualquer chance de competitividade do etanol frente à gasolina.
Em Goiás, a paridade chegou a 73%, número que em tese já colocaria o biocombustível como alternativa. No entanto, na prática, o consumidor olha o preço na bomba e desiste.
Assim, quem paga a conta é o motorista, enquanto redes e independentes aproveitam para engordar margens em cima da falta de fiscalização.
Consumo travado e fiscalização omissa
A consequência é óbvia: com preços tão distantes da realidade das usinas, o consumo do etanol cai, e o mercado fica inflado artificialmente. O combustível perde espaço, produtores perdem competitividade e a economia como um todo sente os efeitos.
Mais grave ainda: a omissão dos órgãos fiscalizadores só reforça a sensação de cartelização velada no setor. A ANP aponta preços médios em torno de R$ 4,80, mas não age com firmeza para corrigir as distorções gritantes entre custo de produção e valor final.
O resultado
O etanol deveria estar sendo a escolha natural do motorista goiano. Entretanto, entre a promessa de energia limpa e barata e a realidade das bombas, o que impera é o peso de um mercado manipulado — e o bolso do consumidor continua sangrando.